Abstract:
Esta dissertação explora a relação entre língua, educação e comunidade. Baseando-nos no processo histórico do Sistema Nacional da Educação e nos conceitos de cidadania linguística e fundos de conhecimentos, analisamos a educação para cidadania em Moçambique, concretamente o empoderamento das comunidades e dos saberes locais na educação bilingue, como um dos impactos das orientações ideológicas e políticas que regem a recente reforma educacional no país. Partindo da ideia de que a educação bilingue traz, dentre vários aspectos, abertura para maior participação da comunidade no processo de ensino e aprendizagem e o facto de alguns estudos como o de Chimbutane (2018) mostrarem descompasso entre a legislação relevante e as práticas, colocámos a seguinte questão: Até que ponto a educação bilingue em Moçambique permite a participação das comunidades como agentes activos da educação? Esta pesquisa, de natureza qualitativa e baseada na Etnografia Linguística e em técnicas da etnografia, nomeadamente, a observação, a entrevista, o questionário e a tomada de notas, analisa dados recolhidos nas Escolas Primárias Completas (EPCs) de Musevene, no Distrito de Matutuine, e Xamisava, na Manhiça, que envolveu 16 professores, 2 direcções das escolas, 4 grupos focais de 5 membros das comunidades e 2 representantes da ADPP-Moçambique. O estudo verificou que (i) a comunidade pouco participa como agente activo no processo de ensino e aprendizagem, (ii) a escola e o seu conhecimento continuam sendo sobrevalorizados em detrimento da comunidade e seu conhecimento. O estudo notou ainda que há elementos suficientes que podem permitir maior participação activa da comunidade na educação dos seus educandos