Perfil epidemiológico dos pacientes observados com corpos estranhos entre 1983 a 2009 no serviço de otorrinolaringologia do Hospital Central de Maputo

Abstract

Em países em desenvolvimento a problemática de corpos estranhos nos Serviços de ORL está relativamente mal estudada. Apesar da literatura ser relativamente escassa, os trabalhos publicados mostram que os mesmos representam um problema cada vez mais importante de saúde pública. Entende-se por corpo estranho qualquer elemento animado ou inanimado introduzido voluntariamente ou involuntariamente dentro do orifício natural da cabeça e pescoço. Assim, com este estudo pretendia-se caracterizar o perfil dos pacientes acometidos por corpos estranhos observados no HCM, identificar os corpos estranhos envolvidos e buscar algumas associações ou relações com a finalidade de apresentar recomendações para a prevenção de acidentes com corpos estranhos nas populações de Maputo Cidade e Província e no país. MATERIAL E MÉTODOS: Foi efectuado um estudo descritivo, retrospectivo, que recorreu à recolha e análise dos dados disponíveis em vários livros de registos dos pacientes diagnosticados com corpos estranhos de forma consecutiva num período de 26 anos (1983- 2009) no HCM. Os resultados são descritos em Tabelas e Gráficos e testes estatísticos (X 2 , OR) foram efectuados para testar algumas relações procurando níveis de significância de 95% (p <0,05). Este estudo teve a devida aprovação pelas autoridades hospitalares e pelo Comité Nacional de Bioética. RESULTADOS: Foram estudados um total de 4826 pacientes com corpos estranhos nos orifícios naturais da cabeça e pescoço com urgências por este problema variando de 27.4% (2008) a 52.5% (2009). A maioria dos casos ocorreu entre Março e Agosto. Aos fins-de-semana foram observados menos casos.A maioria dos pacientes observados era do sexo masculino (52.8%). A idade média dos pacientes deste estudo foi de 14.7 anos (mediana de 7.0 e desvio padrão de 15.7 anos; a variação foi de 2 meses aos 82 anos). Os grupos populacionais mais afectado por corpos estranhos são as crianças menores de 14 anos, sobretudo os dos 0 aos 4 anos de idade. Os metais foram o corpo estranho mais frequentemente encontrado, seguido de espinha de peixe e sementes/grãos. As localizações anatómicas mais frequentes dos corpos estranhos no presente estudo foram: ouvido (40.30%), esófago (31.90%) e fossas nasais (12.30%). viCONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES: Apesar deste estudo trazer evidências que se podem considerar importantes sob o ponto de vista de saúde pública, há a referir de que se trata dum estudo hospitalar e, portanto, com limitações quanto a generalização dos resultados ao nível populacional. Contudo, este estudo apresenta uma compilação única de casos de pacientes com corpos estranhos nos orifícios naturais da cabeça e pescoço abrangendo um período relativamente longo, constituindo, por isso, uma importante fonte de informação sobre o assunto. Por outro lado, se tomarmos em conta as evidências deste estudo e as evidências existentes na literatura, podem-se tirar algumas conclusões que podem ser de utilidade para se definirem estratégias de prevenção e controlo dos incidentes por corpos estranhos em orifícios naturais de cabeça e pescoço.