Abstract:
O presente estudo teve por objectivo estabelecer a correspondência entre fecundidade e género, procurando perceber com as mulheres e homens respondem as diversas expectativas que giram em torno do campo da fecundidade do casal. Os casais da nossa amostra, num total de 10, foram seleccionados observando a amostragem propositada conjugada com a de bola de neve. As entrevistas foram realizadas individualmente (não simultaneamente ao casal) mediante a apresentação do termo do consentimento livre e esclarecido, sendo anónimas e gravadas somente quando permitidas. Os resultados da pesquisa mostram que questões de género trazem representações sobre a responsabilidade da mulher e do homem, frente a regulação da fecundidade. A maneira diferenciada que se olha para o que e “ser mulher”, leva a que a responsabilidade pela regulação da fecundidade seja mulher, não apenas por a gravidez se dar no corpo desta (questão biológica), mas, pela “projecto social da maternidade”, uma meta traçada pela sociedade. Assim, o binómio mulher-mãe parece ser uma meta incontornável. Observa-se por sua vez, que os homens não têm “naturalmente” uma meta a atingir, mas esta e, de alguma maneira condicionada pelos recursos económicos que os mesmos detêm, para poder prover a (futura) família. Contudo, mesmo com esta pressão que sobre elas recai, as mulheres não se sentem reféns da meta, pois, a partir do uso do contraceptivo, da ida ao mercado de trabalho, da busca de formação académica, conseguem de alguma forma “ aliviar” a pressão. O estudo indica que os diferenciais de género estão presentes desde o processo de rotulações e significações que dão sentido a regulação da fecundidade, revelando uma lacuna nos serviços de saúde que necessita ser contemplada por políticas púbicas capazes de promover a equidade de género na atenção a saúde reprodutiva e sobretudo de envolver os homens neste processo
