Abstract:
A violência é um fenómeno presente nas interacções humanas e ganha características especiais na relação conjugal. A construção da conjugalidade é marcada por desafios. O objectivo deste estudo foi compreender dimensões da dinâmica conjugal e o processo de resiliência de mulheres de Moçambique que vivenciaram violência conjugal e foram assistidas na CÁ-PAZ. Utilizamos a abordagem quali-quantitativa para estudar seis casos. Os dados foram colectados através de entrevistas semi-estruturadas e do Teste de Identificação Familiar (FIT). As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo. Os dados do FIT foram analisados através de correlações de Pearson. Os resultados do estudo indicam que as participantes sofreram vários tipos de violência: psicológica, física, patrimonial, sexual e moral. Os actos de violência estavam associados a diversos factores: falta de diálogo e negociação; centralização da tomada de decisões pelos homens; diferenças de status, níveis educacionais e personalidade entre parceiros; a não realização de expectativas; visão tradicional das mulheres como responsáveis pela família; ensinamentos da igreja e crenças religiosas; banalização do sofrimento das mulheres pelos maridos e prestadores de serviço; fragilidades das acções do serviço público e desrespeito aos direitos das mulheres. Foram identificados os seguintes processos de resiliência: coesão, transcendência, espiritualidade, expressão aberta de emoções; apoio da família e colaboração na solução de problemas. Os resultados indicam que é fundamental uma discussão acerca dos papéis tradicionais de género na sociedade moçambicana. Sugere-se: a criação de programas de intervenção em grupo para mulheres que sofrem violência conjugal e para homens agressores; o desenvolvimento de programas de treinamento para as equipes das instituições que prestam serviço às mulheres em situação de violência