Abstract:
Nesta dissertação exploro narrativas de experiências com gestão de secreções vaginais com o
objectivo de compreender três principais dimensões: (a) como as pessoas interpretam e se
relacionam com as secreções vaginais; (b) como elas se relacionam com as outras pessoas e, (c)
como essas pessoas se relacionam com elas tendo como referência essas secreções. Com recurso
ao método etnográfico, usando as técnicas de entrevista semi-estruturada, observação e conversa
informal, explorei conhecimentos e interpretações sobre as secreções vaginais, os mecanismos e
as interações estabelecidas em torno do processo de gestão destas. Os resultados mostram que
existe um ideal de estado do corpo e higiene desejado na interação das mulheres com os outros,
pessoas próximas como amigos e família e parceiros íntimos. Entretanto existem fluídos como as
secreções vaginais que, embora possam ser expectáveis são indesejáveis na interação com os
outros devido ao cheiro, cor, volume e textura que são considerados anormais. Argumento que as
características das secreções vaginais como cheiro, textura e volume são associadas à falta de
cuidado com a higiene e à um estado de impureza. As respostas dadas pelas mulheres e por pessoas
próximas a elas à esse estado de impureza reforçam a ideia da existência de um ideal de como os
corpos devem estar apresentados na interação com outros, nesse sentido, os diferentes mecanismos
adoptados pelas mulheres para lidar com as secreções representam uma tentativa de controlar ou
de sair do estado de impureza em que se encontram