Abstract:
Esta dissertação resulta do trabalho etnográfico realizado no distrito de Mandlakazi, onde
procurei compreender como as rápidas mudanças na governação e procura de terras afectam os
mecanismos de acesso, posse e controlo da terra pelas mulheres. A partir do diálogo com
propostas analíticas em Antropologia que analisam o acesso da terra pelas mulheres (German e
Braga, 2021; Kaarhus e Martins, 2012), analiso a historicidade das relações que governam o
acesso, uso e controlo da terra entre os habitantes de Mandlakazi, fazendo o cruzamento com as
transformações nos mecanismos de governação da terra, que inclui a legislação, o surgimento da
área municipal e mecanismos de titulação de terras, e a maior procura de terra como resultado da
urbanização e expansão do turismo. Assim, procura mostrar que as mudanças no valor atribuído a
terra, num contexto patrilinear como o de Mandlakazi, alteram significativamente a linguagem,
valores, princípios e normas que legitimam a pertença aos grupos sociais de referência identitária,
constituídos com base no parentesco, alianças, afinidade e poder tradicional, que são aqueles que
asseguram que as mulheres tenham acesso e posse da terra. Esta condição produz novas
linguagens e práticas de acesso à terra que desafiam a forma como tradicionalmente as mulheres
acessam à terra e contribui para o surgimento de novas formas de reivindicação e mecanismos de
busca por novas terras