Abstract:
O Homem é um ser social, por isso dialógico, o que significa que ele necessita de interagir com
o seu semelhante para satisfazer as suas necessidades, desde as mais simples até às mais
complexas. Essa interacção é realizada com recurso à linguagem, seja verbal, não-verbal ou
multimodal. As conversas, embora possam ser simétricas, comummente, têm em si subjacente
o poder, enquanto capacidade de influenciar os outros. O poder decorre dos papéis sociais que
os interlocutores ocupam nas organizações sociais, não sendo excepção a interacção de
indivíduos de géneros diferentes. As assimetrias de poder na interacção conversacional
manifestam-se através das escolhas linguísticas. É, portanto, neste contexto que surge a
presente pesquisa intitulada “As conversações quotidianas e as assimetrias de poder entre
homens e mulheres em Xificundri”, cujo objectivo central é analisar a ocorrência de
assimetrias de poder com recurso a elementos linguísticos de natureza pragmática na interacção
quotidiana entre homens e mulheres em diferentes domínios sociais. O estudo é qualitativo,
tendo, fundamentalmente, recorrido à observação directa como principal técnica de recolha de
dados, com destaque às gravações de conversas para a constituição do corpus e às entrevistas
para esclarecer a ocorrência de alguns comportamentos de interlocutores durante as diferentes
interacções conversacionais gravadas. O estudo foi realizado no bairro de Xificundri,
localidade de Ngalundi, posto administrativo de Bobole, distrito de Marracuene, e os dados
foram recolhidos nos domínios laboral, religioso, familiar e entretenimento. A pesquisa
constatou que, na interacção entre homens e mulheres, existem assimetrias de poder, motivadas
por diferentes factores sociais, destacando-se a função que os interlocutores exercem no meio
social ou organizacional, razão por que não se pode afirmar, a priori, que, numa interacção, o
poder é exercido pelos homens ou pelas mulheres. Os resultados do estudo mostram que, no
DL, dependendo do contexto da conversa, existe, por um lado, uma tendência de ocultar o
poder com recurso à polidez da face e ao não uso de actos directivos directos. Por outro, há
tendência de se recorrer ao poder institucional para consubstanciar algum posicionamento. No
DR, a tendência é contrária, havendo preocupação de se exercer o poder de diferentes maneiras,
com destaque para a não produção de turnos adjacentes, o não uso de formas de tratamento por
parte dos homens, a monopolização da fala e turnos excessivamente longos. Na família, o poder
é decorrente do processo de socialização que se inculca nos membros da sociedade, colocando
o homem sempre num lugar de poder, que se manifesta com recurso à deixis, actos de fala,
estratégias de coortesia, entre outros. Por último, no domínio do entretenimento, as relações de
poder revelaram-se ser de grau zero, havendo, porém, eventos de interacção em que os
interlocutores, por alguma razão, reclamam o poder. O estudo conclui que o poder, dependendo
do domínio e do papel social dos interlocutores, pode ser exercido tanto por homens, assim
como por mulheres