Abstract:
A dissertação procura compreender a maneira como as primigestas navegam na multiplicidade de
sistemas de saúde que compõem o caleidoscópio cultural da cidade de Maputo. A análise é sobre
as relações construídas entre estas e os integrantes dos sistemas terapêuticos, profissionais de
saúde, parceiros, familiares, amigas, líderes religiosos e curandeiros, em contextos onde se cruzam
as práticas biomédicas e outros saberes socioculturais locais. A pesquisa está inserida nos principais
enfoques teóricos da crítica interpretativa da Antropologia Médica e das abordagens metodológicas
de natureza qualitativa, a etnografia, a história de vida. Assim, os dados empíricos permitem
desenvolver a seguinte linha de argumentação: as experiências são moldadas a partir de duas linhas
de pensamento estrutural vigente em um grupo de pessoas residentes na cidade de Maputo. Por um
lado, existe uma convenção que aproxima as gestantes aos procedimentos da biomedicina, este
relacionamento é observado não apenas como sendo um lugar seguro, uma coerção social, mas
também invasivo e violento. E, por outro lado, põe-se em voga a ideia localmente grupal, segundo
a qual o problema de saúde durante o período gestacional provém de questões de feitiçaria, inveja
das pessoas próximas e comportamentos de espíritos nocivos. Por isso, a resolução dos seus
problemas deve ser com base nas crenças localmente enraizadas, onde se destacam os conselhos
domiciliários, os poderes dos religiosos e dos curandeiros. Nestas sinuosidades, à luz do estudo
feito, os dados também indicam que as primigestas tendem a utilizar de maneira exclusiva,
sequencial ou complementar as distintas medicinas a que têm acesso.