Abstract:
O presente trabalho foi realizado com objectivo de analisar as representações discursivas dos
tabus de decência em canções da língua chope à luz da teoria social do discurso. Entretanto, tal
análise não foi efectuada apenas à luz desta teoria, visto que foi estabelecido um diálogo entre
ela e teorias da linguística cognitiva, teorias de cortesia linguística e preceitos atinentes à
construção ideológica de género. Para consecução do nosso objectivo, analisámos as
representações discursivas de tais tabus em 27 canções. Esta amostra foi seleccionada de um
corpus gerado não só através da pesquisa documental, realizada no Arquivo do Património
Cultural (ARPAC), na Rádio Moçambique, na Rádio Comunitária de Quissico e na residência de
Venâncio Mbande em Guilundo, como também da observação de cantores, efectuada nas
províncias de Inhambane e Maputo. Ao fim deste estudo, constatámos que a maior parte das
representações discursivas contribui, através do modus operandi de dissimulação, para a
manutenção ou reprodução de identidades e relações patriarcais de género; enquanto a menor
parte [kulondolana ‘aproveitar um ao outro’ (C.4'), kuotela ‘dormir’ (C. 6') e cindongana
‘plantinha’ (C.7')] contribui para a transformação de tais identidades e relações. Assim, a menor
fracção desafia e combate a ideologia de género hegemonicamente naturalizada na cultura chope,
visto que ela contribui para o reconhecimento do homem e da mulher como igualmente
importantes na procriação de novas gerações. Em suma, todas as representações discursivas dos
tabus de decência são práticas, “não apenas de representaçãoˮ dos aparelhos reprodutores
masculino e feminino, do coito, do adultério, da prostituição, do ciclo menstrual e do esperma,
mas da sua significação, ‟constituindo” e construindo-os “em significado” (FAIRCLOUGH,
1992:64).